Carlito Merss (PT) venceu a eleição à Prefeitura com a maior votação já atribuída a um candidato a prefeito na história de Joinville. Carlito e o seu PT ganham, Darci e o DEM perdem. Mas, não é assim tão simples. Com Carlito, também ganham aqueles que se somaram ao seu projeto, como os candidatos que não foram para o segundo turno, como Kennedy Nunes (PP), Rodrigo Bornholdt (PDT) o vice de Mauro Mariani, o médico José Aloísio Vieira, o Xuxo (PPS), e a presidenta do PMDB, a vereadora Tania Eberhardt junto com boa parte do seu partido.
Por outro lado, figuras até então consideradas imbatíveis na política perderam de maneira fragorosa. É o caso do governador Luiz Henrique da Silveira, que apostou em Darci, pediu votos, subiu no palanque e descobriu da maneira mais doida que o eleitorado que anos atrás lhe deu o voto consagrador em duas eleições ao governo do Estado, hoje duvida de sua indicação. Também perdeu o prefeito Marco Tebaldi, que a partir de janeiro não tem mais foro privilegiado, e dentre os perdedores também estão seus preferidos da imprensa.
LHS, o grande perdedorHouve um tempo em que se dizia que o apoio de Luiz Henrique a um cavalo seria suficiente para garantir a eleição ao semovente, tamanho o prestígio do hoje governador. Seis anos atrás Luiz Henrique garantiu sua eleição ao governo do Estado, tida como impossível, graças ao peso de 76% do eleitorado joinvilense. Dois anos depois fez Marco Tebaldi prefeito com a mão sobre seu ombro. Mas, agora não adiantou pedir por Darci de Matos.
O governador se empenhou na campanha de Darci. Foi para a televisão pedir voto, abraçou seu projeto e não lhe faltou entusiasmo quando discursou em favor do candidato do DEM nos diversos comícios que participou. Fosse só isso já seria uma grande ajuda para qualquer um que buscasse apoio do governador.
Mas LHS foi além, e quis trazer todo o PMDB pela orelha para a trincheira de Darci.
Desta vez não deu certo e LHS aprendeu que mesmo dentre os que o admiram tem gente que não aceita ser tangido como se gado fosse. Ele tentou fazer isso dias atrás, depois de a presidenta do PMDB Tânia Eberhardt editar uma nota do partido liberando os filiados, o governador tentou enquadrá-la, determinando, de cima para baixo, o apoio a Darci. Tania se manteve firme e está entre os que venceu.
Assim, a eleição de Carlito é a prova inconteste de que Luiz Henrique é o grande perdedor do processo em Joinville. O governador perdeu quando resolveu apoiar um candidato indesejado pela grande massa e perdeu de novo ao deixar evidente que seu poder de império sobre a consciência das pessoas do PMDB tem limites.
Tebaldi não elege seu afilhadoO prefeito Marco Tebaldi é outro grande derrotado com a eleição de Carlito Merss. E se só a eleição do petista já significaria uma resposta inconteste de desaprovação ao seu governo, a eleição de Carlito com uma ampla maioria de votos, a maior até hoje atribuída a um candidato a prefeito de Joinville, significa muito mais. Significa que a grande maioria dos joinvilenses não engoliu aquela história de que os R$ 35 mil depositados em sua conta eram de um cheque em garantia a um empréstimo dado a um estelionatário. Significa que não aceitaram a forma de tratamento dispensado por Tebaldi a quem questiona suas determinações, as vinganças mandando toda uma comunidade para o fim da fila só porque líderes comunitários reclamaram por obras. E significa que muitos não esqueceram os aumentos da água e IPTU acima do razoável, que Joinville ficou anos sem varrição e que muitos lembram do corte do repasse às cozinhas comunitárias só porque o Padre Fachini não se alinhou politicamente.
Fizesse seu sucessor, especulava-se que Tebaldi poderia compor seu governo até as eleições de 2010, quando tentaria buscar nas urnas uma vaga na Câmara dos Deputados. Mas, até o projeto visando um cargo de deputado federal pode estar comprometido.
Derrotado junto com Darci, Tebaldi perde poder no PSDB justamente para o grupo de Nilson Gonçalves e outros que saíram magoados do processo. Dependendo das articulações futuras, talvez Tebaldi não tenha nem espaço para entrar na disputa, isso sem falar que agora o prefeito perde sua prerrogativa de função, o popular foro privilegiado. O que resta a Marco Tebaldi agora são 66 dias no cargo até a posse do prefeito Carlito Merss.
Ele jogou fora uma eleição praticamente ganhaO presidente da Câmara de Veradores deixou uma reeleição tida como certa para se alinhar-se a Darci como vice, atendendo ao apelo de seu partido, o PSDB. A princípio, perdeu a vice-prefeitura pretendida e a reeleição. O problema é que agora, sem mandato, a situação de Dalonso fica difícil no espectro político. Sem mandato, ele perde nas internas do partido para outros integrantes, como os vereadores, que de certo buscarão credenciar-se para disputar uma vaga na Assembléia Legislativa.
O jovem Fabio Dalonso encarna o aspecto do bom moço. Criado na comunidade agrícola de Pirabeiraba, ele amadureceu nas fileiras do 62º Batalhão de Infantaria, migrou para o serviço público e depois para a política. Sua rápida ascensão, alcançando uma bela eleição à Câmara de Vereadores já na primeira tentativa, em 2004, e logo neste primeiro mandato assumindo a presidência da casa, agora foi interrompida com a derrota de Darci.
Um nó na gargantaAs conseqüências da mudança na administração municipal inevitavelmente atingirão em cheio alguns segmentos da imprensa joinvilense, em especial radialistas que disponibilizaram as cordas vocais em favor do candidato derrotado Darci de Matos (DEM) nos microfones das emissoras de rádio da cidade. São locutores que usam as manhãs para sobreviver da bajulação paga com o dinheiro público.
Sempre atacando enraivecidos aqueles que discordem de suas opiniões ou em defesa dos que injetam dinheiro em seus programas, Osny Martins, Toninho Neves e Luiz Veríssimo agora terão de conviver com o poder do lado oposto de seus interesses. Eram comuns os generosos espaços concedidos ao prefeito Marco Antonio Tebaldi (PSDB), que sem cerimônia, tecia auto-elogios e atacava sem pudor seus inimigos políticos. Em troca, os radialistas eram agraciados com viagens ao exterior custeadas com o dinheiro do contribuinte além de polpudas fatias das verbas publicitárias da prefeitura.
E agora, Toninho Neves?Toninho Neves, que há muito tempo se arrasta como diretor de comunicação social da Câmara de Vereadores de Joinville, também é titular do programa “Linha Direta”, na rádio Colon FM. Ignorando os mais elementares preceitos de bom senso, o radialista tem como patrocinador de seu programa, a própria Câmara, que por sua vez, é presidida pelo vereador Fabio Dalonso (PSDB). O vereador, que foi candidato a vice-prefeito de Darci de Matos, derrotado nas urnas no último dia 26, tinha uma participação na mesma emissora de Toninho, onde fazia a previsão do tempo.
Essa relação promíscua com o poder explica parte da postura tendenciosa adotada por Toninho Neves. A outra parte se deve à amizade de conveniências cultivada entre o radialista e o prefeito Tebaldi. A intimidade entre os dois proporcionou à rádio Colon boas quantias oriundas da verba de publicidade disponibilizada pela prefeitura, enquanto Toninho era agraciado com viagens internacionais. Com a vitória de Carlito Merss (PT), principal alvo de Toninho Neves em suas mal-intencionadas críticas, o prognóstico de seu futuro na Câmara de Vereadores de Joinville se tornou incerto e suas chances de permanecer no cargo comissionado são praticamente nulas.
Veríssimo, esvaziando as gavetasLuiz Veríssimo, radialista de humor instável principalmente se contrariado, comanda o programa “Primeira Página”, também na Rádio Colon FM. Há 29 anos, Verissimo ocupa um cargo comissionado na Câmara de Vereadores de Joinville, onde é subordinado de Toninho Neves. O radialista criou seu programa radiofônico juntamente com Norival Silva, que foi nomeado pelo prefeito Marco Antonio Tebaldi secretário municipal de Saúde. Norival foi preso no exercício de sua função no início desse ano sob a acusação de favorecimento em processos licitatórios, fraude, peculato e formação de quadrilha. Até sua prisão, ele era cotado para integrar a chapa de Darci de Matos como candidato a vice-prefeito. A prisão do amigo lhe causou situações constrangedoras, já que Norival tinha assento garantido no programa, chegando a substituir Veríssimo em algumas ocasiões. Com a posse do novo prefeito e a composição da nova legislatura, Luiz Veríssimo também deverá esvaziar suas gavetas na Câmara Municipal.
Osny Martins e a verdadeira baixariaConsta que uma promessa feita a Osny Martins pelo então candidato Darci de Matos assegurava que o radialista ocuparia um dos cargos de confiança junto a uma eventual administração democrata. O programa Breakfast, na rádio Cultura /Jovem Pan, apresentado por Osny, seria a moeda de troca. Extremamente confiantes em sua vitória, Darci teria garantido ao radialista o comando da Secretária de Comunicação da prefeitura de Joinville. O pagamento pelo generoso presente seriam as opiniões favoráveis ao candidato do DEM. Prova disso, eram as incansáveis defesas dos fatos obscuros envolvendo o padrinho político de Darci, o prefeito Marco Tebaldi, e recentemente o próprio Darci de Matos. Osny pregava quase que diariamente em seu programa de rádio e na emissora de TV RIC Record que tais fatos não deveriam ser debatidos durante a campanha, classificando-os de “baixaria”. A posição do radialista era natural, já que os escândalos que afloraram nos últimos meses tinham como protagonistas o prefeito e o candidato Darci de Matos, que lhe acenava com um belo cargo comissionado. Agora, a administração de Carlito Merss (PT) oxigena e dá novos ares à política da maior cidade do Estado. Nesse contexto, Osny Martins não deve conquistar o mesmo espaço.
A vitória também é delesApoio de Kennedy Nunes e do vice-prefeito Rodrigo Bornholdt foram fundamentais para a vitória de CarlitoKennedy Nunes foi peça chave na eleição de Carlito Merss. O deputado do PP chegou em terceiro na disputa do primeiro turno conquistando 18,5% do eleitorado, e seu apoio foi importante para assegurar a vitória do petista no segundo turno. E não foi só. No primeiro turno, com uma campanha crítica, mostrando os equívocos da administração Tebaldi, Kennedy deixou claro que a melhor opção não seria o candidato do prefeito, abrindo assim espaço para Carlito.
Iniciado o segundo turno, Kennedy foi o primeiro a oferecer apoio ao petista. E Kennedy ganha porque esse apoio lhe assegura espaço para participar do governo e sua votação o credencia a, no mínimo, ser reconduzido à Assembléia Legislativa.
RODRIGO BORNHODTO trabalhista Rodrigo Bornholdt também saiu ganhando no processo eleitoral. O vice-prefeito de Marco Tebaldi fez uma campanha especialmente ácida contra a atual administração, adotou um discurso que pregava a revolução, fez 5,09% dos votos e elegeu um vereador, um de seus principais assessores, o professor James Schroeder. Rodrigo e seu PDT também aderiram à campanha de Carlito e deve contribuir com seu governo. Saiu por cima, especialmente depois de sua ruidosa saída do PMDB, pouco mais de um ano atrás. Hoje, com a eleição de Carlito, Rodrigo deve se tornar um importante interlocutor do governo municipal e se credencia para a disputa à Assembléia Legislativa.